Se voc� pudesse ver sua vida inteira de uma vez, sem os limites do tempo, como quem enxerga uma foto com cada movimento, abrangendo todos os planos, caminhos interconectados, desvios, prolongamentos, come�o, meio e fim, certamente ganharia outra percep��o em rela��o a si mesmo e ao significado de tudo o que j� viveu.
Veria que n�o havia necessidade de tantas ang�stias e medos, que � agora voc� v� - foram criadas por voc� mesmo.
Olhando para tr�s, ficaria claro que cada situa��o, sejam as boas ou ruins, seguiam um fluxo harm�nico, exatamente como acontece na natureza, colaborando para o desenvolvimento de sua propria flora, no seu caso, sua constru��o pessoal, transformando-o, expondo sua mente a novas experi�ncias, amadurecendo seu olhar, podando, regando, semeando, colhendo.
O inverno que parecia sem explica��o, se encaixaria na proxima esta��o, criando um ciclo de equilibrio e suprimento para cada fase.
Olhando de longe voc� lamentaria n�o ter percebido.
Seria como um tapete, cheio de alinhavamentos, desvios, desconex�es, sem nenhum sentido na parte de baixo, mas tudo muda quando voc� olha o outro lado e percebe
que nada foi por acaso.
Talvez, vendo a vida sem os limites do tempo, se arrependa de tantas reclama��es lamurientas, proje��es do que acreditava ser o ideal sem lhe dar chance para calar e ouvir.
Aprenderia a ficar quieto quando ao redor s� tem barulho, escutar sua pr�pria voz interior que sussura e n�o grita, observaria melhor quanta gente apareceu para te ajudar e voc� desprezou, quantas oportunidades desperdi�adas, quantas chances sufocadas pela sua cegueira, pela pena de si mesmo que voc� tanto adulou.
Valorizaria atitudes que pareciam banais, mas estavam l� para fazer toda a diferen�a. Se chocaria ao perceber quantas e quantas e quantas oportunidades teve, mas voc� n�o viu, com suas reticencias, suas insist�ncias, seus autosabotamentos.
Mas hoje, na relatividade, vivendo as rela��es contradit�rias, mergulhado nos limites do tempo e do espa�o, olhando a partir de uma �nica perspectiva que segue um mesmo fluxo, isso tudo parece devaneio.
O fato � que mesmo assim alguns v�em.
Esses aprenderam a projetar-se sobre seus condicionamentos e harbitraram a si mesmos a prerrogativa de serem mais do que serezinhos que reclamam entre uma refei��o e outra, entre o bom dia e o boa noite, entre o nascer e o morrer.
Dentro de n�s, existe uma dimens�o que n�o se tangencia pelo que v�. Que n�o se limita pelo campo visual e enxerga as conex�es que se tocam, as experi�ncias que nos melhoram, as percep��es que resignificam o caos.
D� a essa dimens�o o nome que quiser - n�o importa como a chame- resgate-a.
Temos uma chance de sairmos da caverna, de olharmos l� fora, de entendermos um pouco mais sobre a vida e n�s mesmos. Tudo coopera para que assim seja e todas as experi�ncias s�o materiais para nossa contru��o interior.
Afaste-se do quadro. Mude a perspectiva. Olhe a partir de outro �ngulo.
Fa�a assim e voc� entender�.
Autor : Fl�vio Siqueira