Dia desses, li alguém manifestando o desejo de aparecer ainda menos no próximo ano e confesso que até gosto da ideia. Aprecio os momentos em que fico na minha companhia, pois já sei me bem viver o suficiente para enxergar que ficar sozinha é uma das melhores coisas da vida, mas logo entendi que o que eu quero para os próximos anos nada tem a ver com me tornar menos alguma coisa. Eu quero é ser mais. E se me perguntarem sobre metas e planejamentos, digo uma promessa: Serei mais criança. E serei mais gentil comigo quando me lembrar que sou criança. E serei mais compreensiva comigo quando me lembrar que sou criança. E me permitirei sonhar mais alto quando me lembrar que sou criança pois, assim como o Zeca, desejo proteger meu amanhã. Não sou alguém que escreve as metas em quadro branco em todo começo de ano, mas estou reaprendendo a sonhar como a menininha que um dia eu já fui sonhava. Ainda que doa, confesso que desaprendi a sonhar diante das durezas e amarguras da vida e, bailando entre o que me pesa e acende o peito, redescobri como se sonha. A morte do corpo fÃsico é só um estado fÃsico; Quando se desaprende a sonhar, se desaprende a viver. E eu descobri que gostar da vida é um compromisso ancestral. Fui pra rua tentar me encontrar e redescobri a paixão de viver cantando samba de olhos fechados pelos subúrbios, me emocionando vendo gente viver, chorando de alegria por mim mesma sem sentir culpa e amando cada dia mais verdadeiramente sem a intenção de possuir. E assim descobri que o que a vida faz da gente deságua em encontros, nós é que andamos com os olhos insones pra perceber a sensibilidade desses encontros. Por isso, rezo hoje, diante do mundo, abaixo do céu e com os pés na terra: Que meu coração permaneça criança. Que meus olhos sejam capazes de enxergar a ternura, que minha alma permaneça viva, que minhas mãos permaneçam quentes e que meu corpo seja sempre a casa do amor. Eu quero é ser mais. Se o mundo exige tanta coisa da gente, então que exijamos mais coisa de um mundo que nos quer anestesiados.
— Luana Carvalho