Houve um tempo em que o coração servia para não me deixar morrer, em que apenas lhe atribuÃa essa função, a de sobreviver. Fechei-me tantas vezes quantas aquelas que me magoaram. Criei muros, barreiras e desculpas. Procurei defeitos, afastei e muitas vezes conduzi à saÃda. Muitas vezes fi-lo de forma inconsciente, porque simplesmente achava que não o merecia. Porque as pessoas têm a capacidade de nos fazer sentir insuficientes. Porque não era capaz de distinguir.
Hoje eu sei que não preciso da validação dos outros para ser quem sou. Hoje eu sei que não preciso de pedir licença por existir. Já não me esforço para caber em lugar nenhum porque, convenhamos, podemos não saber onde é o nosso lugar, mas onde não é, sabemos sempre. E sim, sou das que ignora sinais e depois se arrebenta toda, mas que se levanta no momento a seguir. E nesse hiato de tempo, vivo e guardo coisas bonitas.
Se há ilusão que não tenho é a de ser imortal, então eu não quero um coração que sirva "apenas" como órgão, quero um coração que escreva memórias e guarde retratos.
(Chocolate Não Dói.)